Editora: Cia das Letras
O escritor japonês ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, em 1994.
O escritor japonês ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, em 1994.
Sinopse
Em 1964, o romancista japonês Kenzaburo Oe recebia a notícia de que seu primeiro filho nascera com uma anomalia cerebral. É a mesma situação enfrentada pelo protagonista de Uma questão pessoal, o professor Bird. Aos 27 anos, ele leva uma vida medíocre, bebendo pelos bares de Tóquio e sonhando com aventuras no continente africano.
A gravidez da mulher acrescenta angústia ao cotidiano de Bird. A idéia de que será pai e chefe de família faz com que se sinta condenado à vida cotidiana. Para piorar, depois do parto, os pais descobrem que a anomalia cerebral fará o menino ter uma vida vegetativa. Bird não suporta a possibilidade de se ver atrelado para sempre a um filho anormal. Passa, então, a desejar a morte da criança.
Aos poucos, porém, ele se dá conta de que a crise era uma oportunidade. Bird deve percorrer um longo caminho de conquista da realidade, enfrentando os desafios de amadurecimento da vida adulta.
Ao começar a leitura, pensei que seria um caso de superação das dificuldades relacionadas à paternidade. Imaginei que o protagonista seria um exemplo a ser seguido, que uma força surgiria nele para suportar e avançar diante de todas as adversidades.
Porém, conheci um personagem marcante, e não no bom sentido. Bird nos desperta inúmeros sentimentos, principalmente raiva. Seu casamento já aparece no início como um pouco problemático. Ele não é nem de longe o que se espera de um marido ideal às portas do nascimento do primeiro filho.
Ao ficar sabendo que seu filho nasceu com hérnia cerebral, Bird não consegue mais raciocinar direito. Ou, se consegue, torna-se um crápula! Passa a beber demais, afastar-se das responsabilidades, não permanece ao lado da esposa e refere-se ao filho como um monstro. Além disso, esse "monstro" irá lhe tirar todas as economias reservadas para uma viagem que sempre pretendeu fazer à África. Aliás, ele é fissurado pela África, tendo lido diversos livros e colecionado mapas de lá.
Assim, ao decorrer dos livros, o autor vai mostrando um personagem em todas as suas facetas: traumas pessoais, passado, fraquezas, medos e a forma como encara tudo isso. É um personagem muito bem trabalhado, podemos conhecê-lo profundamente.
Lendo sobre a vida do autor, Kenzaburo Oe, vejo que ele passou por uma situação parecida e, na vida real, os médicos sugeriram que ele deixasse o filho para morrer, ainda bebê. Ele e sua esposa não aceitaram e hoje seu filho é músico, apesar de autista. Seu nome é Hikari Oe.
Enfim, é um livro forte, que dá uma sacudida no leitor. Vale muito a pena a leitura!
★★★★★
Depois, acrescentou, meio ressentido: - No final das contas, a vida exige de nós uma atitude ortodoxa. Mesmo que se queira ceder à tentação da falsidade, com o tempo a vida nos obriga a rejeitá-la. Não é mesmo?
- Nem sempre, Bird. Algumas pessoas vivem saltando como rãs de uma falsidade para outra a vida inteira.
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Kenzaburo e seu filho, Hiraki. |
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