sábado, 20 de fevereiro de 2016

A Garota Sem Passado - Michael Kardos

Edição: 2016
Editora: Arqueiro

Sinopse

Num domingo de setembro de 1991, Ramsey Miller deu uma festa em casa para os vizinhos. Depois, assassinou a esposa e a filha de 3 anos. Todo mundo na pacata cidade de Silver Bay conhece a história.

Só que todos estão errados. A menina escapou. Sob o nome falso de Melanie Denison, ela passou os últimos quinze anos escondida com os tios numa cidadezinha remota. Nunca pôde viajar, ir a uma festa na escola ou ter internet em casa, porque Ramsey jamais foi encontrado e poderia ir atrás dela a qualquer momento.

Mas, apesar das rígidas regras de segurança impostas pelos tios, Melanie se envolve com um jovem professor da escola local e engravida. Ela decide que seu filho não terá a mesma vida clandestina que ela e, para isso, volta a Silver Bay para fazer o que nem os investigadores locais, nem a polícia federal, nem o FBI conseguiram: encontrar seu pai antes que ele a encontre.



Resenha

O livro é um thriller incrível, do começo ao fim. Digo isso no sentido de instigar o leitor a terminar o livro o quanto antes. A cada capítulo um novo enigma é criado e várias suposições podem resolvê-lo.

É muito interessante, pois Melanie (Meg Miller) vai de encontro a algo totalmente inesperado. Ela passou a vida inteira reclusa, sem desconfiar de nada que lhe diziam, sempre pensando em sua segurança. E, um dia, devido a um fato que está para ocorrer, ela decide ir atrás de seu pai, na pequena cidade de Silver Bay.

Ela está cansada dessa vida de fugitiva e decide ir até o fim, para descobrir toda a verdade. Ela descobre essa verdade. E é aí que está a falha do livro. Até o final ele é emocionante e desejamos saber o que vai acontecer, mas aí quando acaba, muitas pontas ficam soltas. Algumas atitudes que não fazem sentido, alguns personagens que demonstram uma atitude contrária ao seu caráter, enfim, muita coisa fica sem explicação.

É um livro bom, eu gostei, mas poderia ter sido muito melhor. Poderia ter sido mais bem trabalhado no final, com um encerramento adequado ou explicação melhor a alguns fatos. Mas, como a leitura é super rápida (questão de três dias no máximo), vale a pena dar uma conferida. 

★★★

Uma Questão Pessoal - Kenzaburo Oe

Edição: 2003
Editora: Cia das Letras
O escritor japonês ganhou o Prêmio Nobel de Literatura, em 1994.

Sinopse

Em 1964, o romancista japonês Kenzaburo Oe recebia a notícia de que seu primeiro filho nascera com uma anomalia cerebral. É a mesma situação enfrentada pelo protagonista de Uma questão pessoal, o professor Bird. Aos 27 anos, ele leva uma vida medíocre, bebendo pelos bares de Tóquio e sonhando com aventuras no continente africano. 

A gravidez da mulher acrescenta angústia ao cotidiano de Bird. A idéia de que será pai e chefe de família faz com que se sinta condenado à vida cotidiana. Para piorar, depois do parto, os pais descobrem que a anomalia cerebral fará o menino ter uma vida vegetativa. Bird não suporta a possibilidade de se ver atrelado para sempre a um filho anormal. Passa, então, a desejar a morte da criança. 

Aos poucos, porém, ele se dá conta de que a crise era uma oportunidade. Bird deve percorrer um longo caminho de conquista da realidade, enfrentando os desafios de amadurecimento da vida adulta.


Resenha

Ao começar a leitura, pensei que seria um caso de superação das dificuldades relacionadas à paternidade. Imaginei que o protagonista seria um exemplo a ser seguido, que uma força surgiria nele para suportar e avançar diante de todas as adversidades.

Porém, conheci um personagem marcante, e não no bom sentido. Bird nos desperta inúmeros sentimentos, principalmente raiva. Seu casamento já aparece no início como um pouco problemático. Ele não é nem de longe o que se espera de um marido ideal às portas do nascimento do primeiro filho.

Ao ficar sabendo que seu filho nasceu com hérnia cerebral, Bird não consegue mais raciocinar direito. Ou, se consegue, torna-se um crápula! Passa a beber demais, afastar-se das responsabilidades, não permanece ao lado da esposa e refere-se ao filho como um monstro. Além disso, esse "monstro" irá lhe tirar todas as economias reservadas para uma viagem que sempre pretendeu fazer à África. Aliás, ele é fissurado pela África, tendo lido diversos livros e colecionado mapas de lá.

Assim, ao decorrer dos livros, o autor vai mostrando um personagem em todas as suas facetas: traumas pessoais, passado, fraquezas, medos e a forma como encara tudo isso. É um personagem muito bem trabalhado, podemos conhecê-lo profundamente.

Lendo sobre a vida do autor, Kenzaburo Oe, vejo que ele passou por uma situação parecida e, na vida real, os médicos sugeriram que ele deixasse o filho para morrer, ainda bebê. Ele e sua esposa não aceitaram e hoje seu filho é músico, apesar de autista. Seu nome é Hikari Oe.

Enfim, é um livro forte, que dá uma sacudida no leitor. Vale muito a pena a leitura!

★★★

Depois, acrescentou, meio ressentido: - No final das contas, a vida exige de nós uma atitude ortodoxa. Mesmo que se queira ceder à tentação da falsidade, com o tempo a vida nos obriga a rejeitá-la. Não é mesmo?
- Nem sempre, Bird. Algumas pessoas vivem saltando como rãs de uma falsidade para outra a vida inteira. 
Kenzaburo e seu filho, Hiraki.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

O Grande Mentecapto - Fernando Sabino

Primeira publicação: 1979
Editora: Record
Adaptação: Filme de 1989 (veja o trailer)
Ganhador do Prêmio Jabuti (1980)

Sinopse

O Grande Mentecapto segue a linha da novela picaresca, como o “Dom Quixote de La Mancha”, de Cervantes, em que a personagem vai em busca de conflitos, com o objetivo de resolvê-los heroicamente.

Assim, Viramundo percorre o estado de Minas Gerais, encontrando-se com diversos personagens excêntricos. 

É um marginal em uma sociedade que não compreende e na qual não se enquadra, o Viramundo inspira um sentimento de ternura e de pena por todos aqueles que, em sua simplicidade, sofrem o descaso, a ironia e a opressão.

Esta obra, que rendeu o Prêmio Jabuti, foi adaptada para o cinema, com direção de Oswaldo Caldeira, em 1989, e também para o teatro. 




Resenha


O Grande Mentecapto é um livro muito interessante e cativante! Conta a história de Geraldo Viramundo, desde sua infância. O livro começa contando como era sua convivência com a família e amigos. Após um incidente ocorrido em sua cidade natal (Rio Acima) ele decide ir ao seminário. Após sua saída do seminário, em uma situação um pouco estranha, é que começam realmente suas aventuras e desventuras.

Viramundo é apenas um de seus apelidos e é tratado assim ao longo de quase todo o livro. Ele é um personagem com o coração puro, que acaba se metendo em apuros, sempre na tentativa de fazer o bem e dar o seu melhor pelos outros.

Por causa disso, se torna um mendigo, caminhando de cidade em cidade, por quase todo o Estado de Minas Gerais. Vai conquistando muitos amigos e também alguns desafetos, mas sempre com uma mensagem para passar ao leitor.

Apesar de viver com muito pouco, no sentido material, ele não almeja tornar-se uma pessoa rica ou mesmo com melhores condições de vida. Ao contrário, contenta-se com o que tem e leva uma vida sem rumo, mas ao mesmo tempo sempre acreditando que sua hora está chegando.

O final é um pouco triste e irônico, mas vale muito a pena, pois encerra a história fazendo inclusive uma analogia religiosa, a meu ver.


É um livro que indico a todos. Rende algumas risadas, além de compaixão, empatia e uma boa mensagem ao coração.


★★★★

Capa do Filme de 1989

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

A Síndrome E - Franck Thilliez

Publicação: 2013
Editora: Intrínseca

Sinopse

Um estranho caso vem atrapalhar as férias de verão de Lucie Hennebelle, tenente de polícia em Lille. Seu ex-namorado ficou cego depois de assistir a um filme mudo, anônimo, com um roteiro enigmático, concebido por uma mente doentia.

Simultaneamente, o comissário Franck Sharko, veterano da Divisão de Homicídios e analista comportamental na Divisão de Repressão à Violência, passa por um tratamento na tentativa de curar a esquizofrenia.

No norte da França, cinco cadáveres não identificados foram encontrados sepultados a dois metros de profundidade mutilados de maneira atroz e em estado de decomposição avançada e Sharko cede ao chamado da aventura. Enquanto Lucie descobre os horrores escondidos no estranho filme, um misterioso informante do Canadá aponta-lhe o elo entre aquele rolo e os cinco cadáveres.

Um único e mesmo caso, graças ao qual Lucie e Sharko, tão diferentes e ao mesmo tempo tão próximos em sua concepção do ofício, irão se encontrar. Das favelas do Cairo aos orfanatos do Canadá nos anos 1950, os dois colegas irão se deparar com um mal desconhecido, batizado como “Síndrome E”. Uma realidade assustadora que revela como o ser humano pode ser capaz das maiores atrocidades.




Resenha

A sinopse acima já adianta bastante da história, mas é bom frisar alguns pontos. É um livro ótimo, um thriller incrível, pois sempre deixa o leitor ansioso por respostas.

No início achei que logo diriam o que era a Síndrome E, mas essa explicação chega quase ao final do livro. Entretanto, até chegar a esse final, muita coisa acontece e os fatos estão interligados. Não é um livro que deixa ponta soltas, ao contrário, ele é bem detalhista.

Achei muito interessante a criação dos personagens, principalmente do comissário Franck Sharko. Digo isso por que é aquele tipo de personagem que parece que faz parte da nossa vida, seus sentimentos são bem trabalhados e envolvem o leitor. Pelo fato de ele sofrer de esquizofrenia, isso auxilia muito na história, pois compreendemos a razão de algumas de suas atitudes.

A questão de Lucie, tendo que deixar a família de lado (uma filha está hospitalizada) para dar atenção ao trabalho, num caso extremamente tenebroso e complexo, também é muito interessante. Passa aquela lição: até que ponto o trabalho deve influenciar na nossa vida?

Mas a parte mais interessante é a própria Síndrome e suas consequências. No sentido de que pode ocorrer na vida real, é tudo muito plausível. O criador do filme doentio (que deixou um homem cego) e as pessoas envolvidas em sua produção têm uma obsessão pelo olho humano. Assim, tudo acaba girando em torno disso, de como as imagens e mensagens subliminares atingem e atuam no nosso cérebro.

Pode ser que a Síndrome não tenha espaço na nossa realidade, mas sem dúvida a visão é um sentido que pode ser bem utilizado por pessoas que não tenham boas intenções. Enfim, é preciso ler o livro para entender a complexidade dessa colocação.

O final não deixou pontas soltas na história, mas mesmo assim ocorre um fato que deixa uma brecha para uma continuação, da qual ainda não tive notícia.

Vale muito a pena! Não é um livro de dar medo, mas é um suspense que nos faz ficar um pouco paranoicos...

                                 ★★★★★

Ilustração do Livros Edição Espanhola