Editora: Principis
Publicação: 2019
Um livro muito triste
que causa terror na alma de quem lê e provavelmente na de quem escreveu também.
Confesso que comecei a ler acreditando sentir um pouco do terror mais explícito
ao qual já estou bem acostumada. Sabe, aquele terror material que se nos
apresenta através da visão, da audição ou até mesmo do tato? Quando ouvimos
ruídos à noite e estamos sozinhos em casa ou vemos uma sombra suspeita na
esquina justo no dia em que resolvemos ir a pé para casa? Pois bem, a verdade é
que esse terror material não é nada perto do terror verdadeiro, que é aquele
que atinge a alma do leitor atento e das pessoas minimamente sensíveis. E esse
é o terror presente nesse livro, cuja leitura pode ser um pouco cansativa
devido à organização da linha temporal e à grande quantidade de detalhes. Apesar
disso o livro é sensacional e faz jus ao título de clássico do horror, tendo
sido também a primeira obra de ficção científica da história (escrito entre
1816 e 1817). Em relação à história, temos de um lado o criador: ilustre
estudioso e cientista, Dr. Victor Frankenstein. Arrogante, soberbo, covarde e
egoísta. E de outro lado, a criatura: chamada apenas de "monstro" ao
longo do livro. Sensível, pavoroso, impulsivo e desgraçado. O livro não trata
apenas de um experimento do cientista em criar um ser humano grotesco e que
causa medo aos que o vêem, apenas para dizer que é capaz disso. A história, a
meu ver, é muito mais profunda, pois acredito que todos temos um pouco de
criador e criatura dentro de nós, na mesma linha de trevas e luz, yin e yang.
Impossível sermos apenas bons ou maus, somos uma mistura fluida de nossas vivências
e escolhas e, para quem acredita, alguma coisa kármica. Mas o que me causou
mais dor ao ler esse livro é ver que o "monstro", criado e friamente
rejeitado por seu "pai", tornou-se tão violento não de forma inata,
mas pelo ambiente ao que foi exposto, pela forma como as pessoas o trataram,
como saíam correndo com medo de sua aparência, como o machucaram em virtude
disso, como não queriam nunca ouvir o que dizia. E ao mesmo, seu próprio
criador o rejeitou desde o seu primeiro instante de vida, não lhe dando
oportunidade alguma de tornar-se bom ou ao menos neutro, não lhe dando amor ou
qualquer palavra de carinho. Os livros sempre imitam a vida e vice-versa, pois
também são arte. Ou seja, o mundo atual está repleto de "monstros",
de criaturas de Frankenstein, pessoas e grupos rejeitados por sua aparência,
modo de vida, expressão pessoal, escolha religiosa, poder aquisitivo e tantos
outros fatores. E o pior de tudo é que minha dor ao ler o livro se replica dia
a dia quando paro para refletir sobre as injustiças que existem e referente as
quais eu posso, de certa forma, fazer alguma diferença. Mas eu quase nunca
faço. Assim como sei que você que está lendo isso também não consegue fazer
sempre. Llá no nosso íntimo sabemos o que deve ser feito mas não é conveniente
ser bom o tempo todo. E assim é a vida, dor e sofrimento, luz e trevas,
gratidão e empatia. Obviamente recomendo essa leitura, um dos melhores livros
que já li.