domingo, 15 de dezembro de 2019

Frankenstein - Mary Shelley

Editora: Principis
Publicação: 2019
Páginas: 240




Um livro muito triste que causa terror na alma de quem lê e provavelmente na de quem escreveu também. Confesso que comecei a ler acreditando sentir um pouco do terror mais explícito ao qual já estou bem acostumada. Sabe, aquele terror material que se nos apresenta através da visão, da audição ou até mesmo do tato? Quando ouvimos ruídos à noite e estamos sozinhos em casa ou vemos uma sombra suspeita na esquina justo no dia em que resolvemos ir a pé para casa? Pois bem, a verdade é que esse terror material não é nada perto do terror verdadeiro, que é aquele que atinge a alma do leitor atento e das pessoas minimamente sensíveis. E esse é o terror presente nesse livro, cuja leitura pode ser um pouco cansativa devido à organização da linha temporal e à grande quantidade de detalhes. Apesar disso o livro é sensacional e faz jus ao título de clássico do horror, tendo sido também a primeira obra de ficção científica da história (escrito entre 1816 e 1817). Em relação à história, temos de um lado o criador: ilustre estudioso e cientista, Dr. Victor Frankenstein. Arrogante, soberbo, covarde e egoísta. E de outro lado, a criatura: chamada apenas de "monstro" ao longo do livro. Sensível, pavoroso, impulsivo e desgraçado. O livro não trata apenas de um experimento do cientista em criar um ser humano grotesco e que causa medo aos que o vêem, apenas para dizer que é capaz disso. A história, a meu ver, é muito mais profunda, pois acredito que todos temos um pouco de criador e criatura dentro de nós, na mesma linha de trevas e luz, yin e yang. Impossível sermos apenas bons ou maus, somos uma mistura fluida de nossas vivências e escolhas e, para quem acredita, alguma coisa kármica. Mas o que me causou mais dor ao ler esse livro é ver que o "monstro", criado e friamente rejeitado por seu "pai", tornou-se tão violento não de forma inata, mas pelo ambiente ao que foi exposto, pela forma como as pessoas o trataram, como saíam correndo com medo de sua aparência, como o machucaram em virtude disso, como não queriam nunca ouvir o que dizia. E ao mesmo, seu próprio criador o rejeitou desde o seu primeiro instante de vida, não lhe dando oportunidade alguma de tornar-se bom ou ao menos neutro, não lhe dando amor ou qualquer palavra de carinho. Os livros sempre imitam a vida e vice-versa, pois também são arte. Ou seja, o mundo atual está repleto de "monstros", de criaturas de Frankenstein, pessoas e grupos rejeitados por sua aparência, modo de vida, expressão pessoal, escolha religiosa, poder aquisitivo e tantos outros fatores. E o pior de tudo é que minha dor ao ler o livro se replica dia a dia quando paro para refletir sobre as injustiças que existem e referente as quais eu posso, de certa forma, fazer alguma diferença. Mas eu quase nunca faço. Assim como sei que você que está lendo isso também não consegue fazer sempre. Llá no nosso íntimo sabemos o que deve ser feito mas não é conveniente ser bom o tempo todo. E assim é a vida, dor e sofrimento, luz e trevas, gratidão e empatia. Obviamente recomendo essa leitura, um dos melhores livros que já li.